sexta-feira, 11 de março de 2011

teoria sem autor, autor sem teoria

      O autor como manifestação de singularidade em sua ausência. 
         Nada de desubjetivação, mas de multisubjetividades
         Não apenas o múltiplo do único, mas dos únicos reunidos.
         Teorias não dão em árvores, nem são frutos de saltos ornamentais
         São processos históricos, comparilhados, que interferem-se mutuamente.
         Que importa quem fala?
         Importa antes o que e como se fala.]
         Deixemos os autores para a sobremesa e tentemos nos reter na autoria
         O autor é propriedade, prioridade e chave de segurança
         A autoria é uma expressão, um travessia sem destino pré-definido e uma constatação de processo
         A autoria é fruto de uma relação da obra com seu público

entrevista, fala, personagem

   Algumas generalizações válidas apenas pela constância na experiência pessoal. Um documentário a fazer. Ou doc, como diz hoje, em neo hierogrifo. Um doc a fazer implica encontrar personagens. Aciona-se o mecanismo de caça a tipos exóticos e incomuns. Personagens significam, genericamente, gente incomum. E performática. É preciso estar bem diante da câmera. Essa performance para a câmera se dá sobretudo pela palavra. Com ou sem pergunta, importa, para esses docs de personagens, a a entrevista. Construção pela fala. 

Jean Claude Bernardet implica com isso no posfacio da edição atualizada de Cineasta e as Imagens do Povo. A palavra não é tudo. A historiadora argentina Beatriz Sarlo questiona a sacralização do verbo, sobretudo das vítimas,  e a transformação de auto-relatos como atestado da verdade. Deixa--se de construir um ponto de vista, a partir da relação entre testemunho de experiência e o olhar para essa experiência,  para se terceirizar a discursividade em direção a quem fala. Fala-se o que? Em resposta a quais perguntas? Elias Canetti parte do princípio de que a pergunta é um gesto invasivo. Uma estratégia de cerco, de tocaia, de jogo, em busca de um algo a mais, algo ainda não liberado.

Nada contra.

Contra, sim, modelos. A entrevista sempre esteve no documentário brasileiro desde "Viramundo," de Geraldo Sarno, e "Maioria Absoluta", de Leon Hirzsman, mas naquele momento era usada a partir de uma tema, com uma hipótese construida em cima de uma seleção de momentos de falas.de anônimos ,com autobiografias sintetizadas e nenhuma indvidualidade ou mesmo nomes próprio.s Importa o que fazem, o que pensam de sua situação, qual seu lugar na socidade, não o que sentem. 

A nova entrevista, pelo menos desde "Boca do Lixo" e "Santo Forte," de Eduardo Coutinho, desloca-se para o subjetivo. Importa menos o contexto no qual se dá a experiência invidual e mais o indivíduo como presença cênica diante da câmera. Importa o extraordinário do encontro, na linha Jean Rouch, mas um encontro sempre muito frontal, cineasta quase sempre fora, personagens dentro, o fora adentrando ao plano pelas perguntas.

Há formas e formas de se chegar ao personagem. Nem sempre pela palavra. 

Não há apenas personagens.

Respostas a perguntas já feitas: o tomate é o personagem principal de "IIlha das Flores," de Jorge Furtado, assim como é uma fotografia a personagem central de "Ulisses", de Agnes Varda.

Desapresender é mais difícil que aprender alguma coisa. 



coração selvagem e a imagem-interior

    Nos primeiros minutos de "Coração Selvagem", direção de David Lynch, Lula aciona flash-backs, imagens de sua memória, de seu interior. Sangue e chamas. 
    Uma imagem com um dentro com outra imagem. 

     O fogo retorna em outros momentos. 

     Essa imagem de dentro, gerada pelo interior de um personagem, recusada por Jean Douchet em sua crítica a "O Ano Passado em Marienbad", de Alain Resnais, é irradiada lá dos anos 20 em muitos filmes vinculados à vanguarda francesa (de Jean Epstein, Germaine Dullac)

     Nos anos 00, 90 anos depois da estilização da interioridade, de imagens de sonhos e de alucinações, de desejos e de lembranças, a imagem de dentro é standart.

     Vejam os filmes recentes dos bombadinhos Daren Aronofski e Christopher Nolan.

      "Cisne Negro" e "A Origem" são o paradigma.

       Nos dois casos, há o dentro e fora, assim, bem ordenados, e no finalo fora se impóe, se não como certeza, certamente como direcionamento.

        Um na morte.
        O outro no retorno do luto.

tarantino

              Tarantino é emblema máximo desse cinema progressivamente instalado desde os anos 60, que explode como conjunto nos anos 80-90, justamente o momento de nascimento do cineasta.

              "Cães de Aluguel" ainda é híbrido,

              mas "Pulp Ficition" primeiro e a fase pós "Jackie Brown" depois, com os dois "Kill Bill", "A Prova da Morte" e "Bastardos Inglórios", tornam-se paradigmas dessa imagem

               Outros fillmes nos 90 e 00 seguiram esse caminho.

               Como pode ser lido na Contracampo (contracampo.com.br), "Panteras Detonando", por exemplo, seria uma auto-intoxiacação dessa imagem

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     Um curso sobre um certo tipo de imagem. 

     Não se trata de datas, mas de fluxos. Os finais de 60, 70 e 80, os ínícios de 70, 80, 90
  
   : filmes paradigmáticos de um perííodo da imagem cinematográfica em suas relações com estruturas narrativas e com os referentes fora da imagem.
  
    Serge Daney chama de terceira fase, de maneirismo, ao que se nomeou, também, de formalismo ou esteticismo. Descaminhos do cinema moderno.Uma vez desmontados certos caminhos (de causa e certezaa), uma vez adotada a desorientação, assim de forma genérica, o que resta ao cinema? Os ismos da imagem

   Nem sempre são categorias essas palavras, esses substantivos com perfume de conceito duro. Muitas vezes, na cultura cinematográfica, como em toda cultura, são sensos comuns, aplicados para se medir a distância maior ou menor da imagem em relação aos modelos fora dela.
  
     Existe o fora?
     A invenção de um mundo ficional auto-consciente, reflexivo em momentos mais radicais, mas apenas paródico e referente em outros tantos, pode ser reduzido ou filosofado como movimento pós-moderno.

     Deixemos de lado essa racionalização para além da tela. Primeiro, os filmes,. De forma particular a princípio. De forma associativa em momento posterior. Associações menos por categorias, mais por afinidade de personalidade estilística, por uma forma de lidar com a imagem, com toda consciência de seu passado, com toda a crise manifestada na ansiedade por um outro caminho de originalidade, sem selo de autenticidade, mas com marcas de recombinações de quem estudou o ofício.

   Leituras: Andre Bazin, Serge Daney, Olivier Assayas. Textos disponíveis por ai e por aqui
    Filmes matrizes:
    
    Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais
    Acossado, de Jean-Luc Godard
    Made in USA, de Godard
    O Demônio das Onze Horas, de Godard
    A Mulher de Todos, de Rogerio Sganzerla
    Matou a Familia e foi ao Cinema, de Julio Bressane
    Eros + Massacre, de  Suzuki
    No Fundo do Coração, de Francis Ford Coppola
    Amarcord, de Fellini
    Fome de Viver, de Tony Scott

    Filmes dos 80 também nos 90
    
    Rumble Fish, de Francis Ford Coppola
    Duble de Corpo, de Brian De Palma
    Filme Demência, de Carlos Reichenbach
    Afogando em Números, de Peter Greanaway
    Movaux Sang, de Leo Carax
    Arizona Nunca Mais, de Joel Coen
    Cidade Oculta, de Chico Botelho 
    Tangos, Exílio de Gardel, de Fernando Solanas
    Veludo Azul, de David Lynch
    Mulheres a Beira de uma Ataque de Nervos, de Pedro Almodóvar
    Subway, de Luc Besson
    Diva, de Jean Jacques Beineix
    A Dama do Cine Shanghai, de Guilherme de Almeida Prado
    Barton Fink, de Joel Coen
    Sexo Mentiras e Videotape, de Steven Soderbergh
    Delicatessen, de Jean Pierre Jeneut
    Os Amantes da Ponte Neuf, de Carax
    Coração Selvagem, de Lynch
    Europa, de Lars Von Trier
    Naked Lunch, de David Cronenbergh
    Kika, de Almodóvar
    Fogueira das Vaidades, de De Palma

   Há buracos na lista, alguns propositais, outros por esquecimento, outros ainda por falta de disponibilidade dos filmes, mas toda a lista é sempre provisória. 

    Poucos exemplos latinos-americanos e asiáticos